segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A GLOBALIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO: O FATO E A NOTÍCIA

DALTO, C. T.
GONÇALVES, A. S.

 
INTRODUÇÃO:
O tema abordado traz como foco central a diferenciação entre a notícia e o fato, discutindo a informação como agente ideológico em tempos de “globalização” do espaço geográfico. Deste modo, procura-se considerar o aluno como elemento social participativo nesta relação (consumidor consciente do espaço produzido pelas diferentes mídias) seja em seu aspecto físico ou abstrato. Ideologia, notícia, fato e consumo do espaço são tratados em suas interrelações dinâmicas, oferecendo ao aluno a oportunidade de manifestar-se livremente sobre estes assuntos.

Palavras-chave: informação; ideologia; globalização.

Objetivos: Este trabalho realizado com os alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Dr. Antônio Pereira Lima – Ensino Fundamental e Médio tem como função precípua diferenciar a notícia do fato, deixando transparecer as ideologias veiculadas pelos diferentes meios de comunicação. Entendemos que cada indivíduo pode – e deve – ser o agente transformador da realidade que o cerca, portanto, a interpretação crítica da notícia pode revelar o fato subjacente a ela, bem como as ideologias que a envolvem.

Metodologia:
No correr do 4º ano do curso de Licenciatura Plena em Geografia por nós realizado na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), propôs-se a utilização do período de “regência” para execução de um trabalho voltado ao uso de “novos” instrumentos de ensino em sala de aula. A proposta teórico-prática apresentada pela professora Jully G. Retzlaf de Oliveira busca ampliar a visão do aluno (futuro docente) sobre as possibilidades de utilização em sala de aula de diversos instrumentos didático-pedagógicos para a transmissão do conteúdo de Geografia. Portanto, estes instrumentos devem ligar-se aos conteúdos geográficos e ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos do ensino médio. Deste modo, os alunos Alvaro Spadim Gonçalves e César Tobias Dalto, realizando regência no Colégio Estadual Dr. Antônio Pereira Lima – Ensino Fundamental e Médio no Distrito Panema, Santa Mariana – Paraná, propuseram utilizar-se dos diferentes meios de comunicação para discutir as ideologias implícitas na veiculação dos fatos (notícia?) pelas diferentes mídias ora existentes. Para isso, convidaram os alunos do 2º ano A do ensino médio do referido colégio para participar do projeto.
Como o foco central deste trabalho é a diferenciação entre a notícia e o fato três fontes conexas (a imprensa escrita, a televisão e a rede mundial de computadores) foram arbitrariamente escolhidas para serem analisadas pelos alunos em sala de aula sob a supervisão dos professores regentes.
Num primeiro momento (dia 23/08/2010) os citados professores ministraram aula sobre os objetivos a serem alcançados, a metodologia a ser usada e o tempo gasto para execução e conclusão do projeto. A explicação sobre a diferenciação entre notícia e fato e ideologia e contra-ideologia foi seguida pela leitura dos seguintes textos complementares:
“A ideologia é o conjunto de representações e idéias, bem como de normas de conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe dominante. Essa consciência da realidade é uma falsa consciência, porque camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais. (Assim) a ideologia, no sentido positivo, exerce a função de cimento do grupo social, tornando a sociedade de fato unida em torno de crenças comuns que fazem justamente a força das tradições. No sentido negativo, a unidade é falsa, pois esconde a divisão injusta da sociedade para manter a dominação” (ARANHA & MARTINS, 1992, p.58).
“Entre os fatores constitutivos da globalização, em seu caráter perverso atual, encontram-se a forma como a informação é oferecida à humanidade e a emergência do dinheiro em estado puro como motor da vida econômica e social. São duas violências centrais, alicerces do sistema ideológico que justifica as ações hegemônicas e leva ao império das fabulações, a percepções fragmentadas e ao discurso único do mundo, base dos novos totalitarismos – isto é, dos globalitarismos – a que estamos assistindo. Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação.
(...) Nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação das desigualdades.
(...) O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível.
(...) As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela chatice e mesmice das fotografias e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes. Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma interpretação, isto é, a notícia.” (SANTOS, 2008, pp. 38-40).
Ao final da aula os alunos em grupo escolheram o assunto-tema a ser pesquisado.
Feito isto, determinou-se o dia para separação do material, ou seja, o dia 26 de agosto de 2010 foi selecionado para que os alunos retirassem material da imprensa para ser posteriormente apresentado em sala de aula.
O cronograma a ser completado num segundo momento (dia 28/08) visou “formatar” o material recolhido em sala de aula para uso e seguidamente (dia 30/08) apresentado por cada grupo com as suas conclusões. O assunto-tema escolhido pela maioria foi o desemprego pois, grosso modo, este é o evento social que mais os incomoda atualmente. Os alunos foram então separados em três grupos com o objetivo de selecionar material relacionado ao tema nas três diferentes mídias.
O primeiro grupo ficou encarregado de buscar notícias relacionadas ao tema na imprensa escrita, preferencialmente em jornais da região; o segundo grupo de trazer material veiculado por jornais televisivos da nossa região e o terceiro grupo notícias divulgadas na rede mundial de computadores (internet).
Desenvolvimento:
Após a separação do material a ser utilizado em sala de aula, os professores regentes e os alunos reuniram-se para formatá-lo, ou seja, este dia foi utilizado para recortar jornais, gravar os vídeos e imagens trazidos em formato adequado à reprodução na TV pendrive e referenciá-los corretamente. Neste dia não houve intervenção dos professores sobre “a qualidade e a coerência” do material apresentado.
Em função da paralisação do dia 30 de agosto as apresentações foram transferidas para dia 01 de setembro de 2010. Neste dia cada grupo apresentou suas considerações sobre o assunto-tema, particularizando a mídia escolhida. O primeiro grupo apresentou por meio de recortes de jornais (Folha de Londrina e Jornal da Paraíba) dados sobre o índice de desemprego no Brasil e as diferentes interpretações dos jornais do Sul e do Nordeste sobre a pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). O segundo grupo apresentou (em vídeo) a veiculação desta mesma pesquisa pela Rede Globo de Televisão (Jornal Nacional) e o curto espaço de tempo utilizado pela emissora para dar ênfase a um único aspecto da pesquisa: “a menor taxa de desemprego já registrada no mês de julho”. O terceiro grupo apresentou vários fragmentos da pesquisa retirados da rede mundial de computadores (internet) para destacar que a maioria deles tinha como fonte comum os jornais do estado de São Paulo.
Sendo assim, os alunos puderam perceber (mesmo que superficialmente) que entre fato e notícia existe um grande espaço preenchido por interesses de diferentes grupos sociais, sobretudo dos grupos sociais hegemônicos. Os professores regentes encerraram as apresentações ressaltando que mesmo nas ações aparentemente mais inofensivas existe uma ideologia implícita, a qual deve ser pensada criticamente pelo aluno.
Conclusões:
Embora o material apresentado pelos alunos do segundo ano do ensino médio seja coerente com aquele solicitado pelos professores regentes, percebe-se que a identificação subjacente ao assunto-tema (ideologias e contra-ideologias) é ainda bastante complexa para a grande maioria. Eles facilmente percebem a diferenciação entre o fato (o acontecimento) e a notícia (a interpretação do fato), mas não conseguem perceber que as ideologias permeiam a notícia, dando-lhe, às vezes, uma conotação favorável e em outras, desfavorável. Ainda mais, a leitura apresentada (Milton Santos, Maria L. de Arruda Aranha e Maria H. Pires Martins) pelos professores regentes em nada facilitou esta compreensão, ao contrário, por ser extremamente filosófica aumentou o número de dúvidas.
Por tudo isto, concluí-se que o projeto alcançou apenas em parte seus objetivos, pois, de certa maneira, trouxe uma nova visão aos alunos sobre a interpretação do fato (a notícia), mas não os ajudou a compreender como se processa o consumo do espaço produzido pelas diferentes mídias e seus interesses de classe. Por outro lado, quando considerado o projeto como um todo (desde a universidade até a execução final em sala de aula), a execução do projeto pode ser entendida como completa e adequada com a participação efetiva de todos, desde os professores regentes até os alunos do ensino médio. Portanto, “o experimento” possibilitou-nos compreender que diferentes instrumentos de ensino podem – e devem – ser utilizados para dinamizar o ensino de Geografia, sobretudo os recursos audiovisuais, porém, assuntos de maior complexidade necessitam de 1) melhor preparo prévio; 2) maior número de aulas para aprofundamento teórico; 3) abordagem interdisciplinar e 4) prosseguimento metodológico ao longo do período. Sem isso, a ruptura entre teoria e prática induz o aluno ao desinteresse para novos projetos.
Referências:
ALMEIDA, L. M. A. de & RIGOLIN, T. B. Geografia. Série Novo Ensino Médio, São Paulo: Ática, 2003.
ARANHA, M. L. de A. & MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
SANTOS, M. Por uma outra globalização; do pensamento único à consciência universal. 16ª ed. São Paulo: Record, 2008.

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