quinta-feira, 5 de julho de 2012

DRAMATIZAÇÃO DA OBRA MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO

DRAMATIZAÇÃO DA OBRA MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Autores: Alana Caroline Sargim
Beatriz de Paula Ramos
Claudio
Fernanda
Géssica
Jonathan
Patrícia
Renato
Ano: 7º Ano.
Objetivo: Compreender os aspectos econômicos, sociais, culturais e naturais da região nordeste através da dramatização e interpretação da obra Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto.
Tempo Estimado: 45 minutos, incluindo arrumação do local e a realização do teatro.
Conteúdo: Região Nordeste, aspectos econômicos, sociais, culturais e naturais.
Músicas: Saga de Retirante – Socorro Lira; Louvação – Gilberto Gil; Asa Branca – Gilberto Gil.

1)    SÍNTESE DA OBRA

João Cabral de Melo Neto nasceu no dia 09 de janeiro de 1920 em Recife, Pernambuco. De tradicional família de senhores de engenho, João Cabral passou a infância em engenhos de cana-de-açúcar.
O livro foi escrito entre os anos de 1954 e 1955 e publicado somente em 1955. No poema usa preferencialmente o verso heptassilábico ou redondilho maior, verso sonoroso e facilmente obtido. Está dividido em 18 partes, da parte 1 a 9, compreende a ida de Severino até o Recife, seguindo sempre o Rio Capibaribe. Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife e sabe que para ele não há nenhuma saída, a não aquela que presenciou no percurso, a morte.
Morte e Vida Severina tem como subtítulo Auto de Natal pernambucano, espelha-se na cultura popular nordestina. Chamada auto, pois se assemelha às composições de caráter religioso ou moral dos séculos XV e XVI, cuja representação teve origem nos Presépios, encenações do nascimento de Cristo, típicas também em Pernambuco, estado em que corre a obra de João Cabral de Melo Neto.
O nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem, encontrando miséria, morte, pobreza, como partes da vida em oposição à morte. Pois este apresenta um poema dramático, que relata a dura trajetória de um migrante nordestino em busca de uma vida mais fácil no litoral.
Severino cansado de como vivia em Serra da Costela, nos limites de Paraíba, resolve seguir caminho para o Recife, no caminho ele acaba encontrando dois homens (irmãos das almas) que levam um defunto, havia morrido por ter levado um tiro em uma emboscada, por ter uma pequena terra onde plantava. Severino seguiu o seu trajeto com o defunto e os dois homens.
Severino ia seguindo o Rio Capibaribe, mas ele havia sido cortado pelo verão. Chegando a uma cidade, ele encontra um homem sendo velado e mais tarde resolve interromper sua jornada para ali tentar encontrar um trabalho. Ele vê uma mulher na janela e pensa em pedir a ela notícias sobre um trabalho qualquer. Mas Severino só sabia plantar e pastorear, e a única fonte de trabalho e renda na região é a morte. Profissões como enfermeiros, coveiros, farmacêuticos e benzedeiras são beneficiadas pela indústria da morte. Ao longo de sua trajetória ele assiste a enterros e cortejos fúnebres.
Chegando à Zona da Mata, ele ouve a conversa de amigos de um morto recém enterrado e resolve seguir mais rápido para chegar logo ao Recife. Severino apenas seguia para tentar escapar da velhice que chegava mais cedo na sua terra.
Ao chegar a Recife, o sertanejo ouve a conversa de dois coveiros que falam sobre os retirantes que chegam para morrer na capital. Severino se surpreende e vê que migrara seguindo o seu enterro, mas já que não viajou esperando grandes coisas segue o rio, chocado e ciente da sua miserabilidade resolve se suicidar, que segundo os coveiros faria um enterro melhor.
Andando por aquelas bandas, ele se encontra com um morador da beira do rio, chamado José, o mestre carpina. Eles conversam sobre a fome, a vida e a respeito da profundidade do rio Capibaribe. Exatamente nesse momento, José recebe a notícia de que seu filho nascera, fato que trás muita alegria a todos. Severino fica de fora sem tomar parte em nada, os vizinhos, amigos e parentes chegam, cumprimentam os pais, vão levar presentes que a sua pobreza permite e adorar como à Cristo. Falam sobre o menino e ainda duas ciganas prevêem o futuro dele, sendo uma boa e a outra má. Uma delas, a má, dá ao menino a leitura de um destino trágico, ser pobre. Mas a cigana boa prediz-lhe um futuro melhor, o que ela vê é graxa de alguma fábrica, o que vale a dizer que ele terá uma vida socialmente boa.
Por fim, José fala a Severino que a pergunta dele sobre a vida ele não sabe responder, mas que apenas deve-se viver a vida. Mesmo a vida sendo frágil, é uma prova da resistência desse povo e de todos os outros Severinos do Nordeste do Brasil que lutam pela sobrevivência. Há uma quebra na trajetória do desconsolo ao nascer uma criança, representando a fé, a esperança que ressurge a cada vida que brota.

2)    Adaptação da obra para teatro:

(Será iniciado com uma breve síntese pelo narrador, sendo logo apresentado o nome da obra e algumas imagens da caatinga – Temas musicais: Chico Buarque de Holanda).

3)    Apresentação:

Narrador: Severino mostra-se como um tipo comum: o homem nordestino. Sua densidade humana e psicológica vai surgindo com o transcorrer da obra. Mais que um indivíduo, pelo menos no início da peça, Severino iguala-se a milhares de outros homens humildes e miseráveis, desprovidos de identidade - daí parece decorrer a dificuldade do protagonista em definir-se ou individualizar-se de outros tantos "Severino", provindos da mesma serra. Durante o decorrer do teatro o protagonista Severino, será demonstrado por vários integrantes, demonstrando os vários Severino existentes.

4)    Teatro

Cena 1:
(A peça é aberta com a explicação de Severino que se apresenta e diz a que vem)
— O meu nome é Severino,  
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria,  
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.  
Mais isso ainda diz pouco:  
há muitos na freguesia,  
por causa de um coronel  
que se chamou Zacarias  
e que foi o mais antigo  
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo  
ora a Vossas Senhorias?  
Vejamos: é o Severino  
da Maria do Zacarias,  
lá da serra da Costela,  
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:  
se ao menos mais cinco havia  
com nome de Severino  
filhos de tantas Marias  
mulheres de outros tantos,  
já finados, Zacarias,  
vivendo na mesma serra  
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida:  
na mesma cabeça grande  
que a custo é que se equilibra,  
no mesmo ventre crescido  
sobre as mesmas pernas finas  
e iguais também porque o sangue,  
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos  
iguais em tudo na vida,  
morremos de morte igual,  
mesma morte severina:  
que é a morte de que se morre  
de velhice antes dos trinta,  
de emboscada antes dos vinte  
de fome um pouco por dia  
(de fraqueza e de doença  
é que a morte severina  
ataca em qualquer idade,  
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos  
iguais em tudo e na sina:  
a de abrandar estas pedras  
suando-se muito em cima,  
a de tentar despertar  
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar  
alguns roçado da cinza.  
Mas, para que me conheçam  
melhor Vossas Senhorias  
e melhor possam seguir  
a história de minha vida,  
passo a ser o Severino  
que em vossa presença emigra.


(Apagam-se as luzes e Severino se retira, para a entrada do cortejo fúnebre, na qual envolverá o dialogo entre as duas pessoas que carregam o corpo, dois retirantes os encontram e começam com as falas – pode ser intercalado).

Cena 2
Narrador: O Severino encontra dois homens carregando um defunto numa rede, aos gritos de "ó irmãos das almas! Irmãos das almas! Não fui eu quem matou não!"
— A quem estais carregando,  
irmãos das almas,  
embrulhado nessa rede?  
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,  
irmão das almas,  
que há muitas horas viaja  
à sua morada.
— E sabeis quem era ele,  
irmãos das almas,  
sabeis como ele se chama  
ou se chamava?
— Severino Lavrador,  
irmão das almas,  
Severino Lavrador,  
mas já não lavra.
— E de onde que o estais trazendo,  
irmãos das almas,  
onde foi que começou  
vossa jornada?
—  Onde a caatinga é mais seca,  
irmão das almas,  
onde uma terra que não dá  
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,  
irmãos das almas,  
essa foi morte morrida  
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,  
irmão das almas,  
esta foi morte matada,  
numa emboscada.
—  E o que guardava a emboscada,  
irmão das almas  
e com que foi que o mataram,  
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,  
irmão das almas,  
mas garantido é de bala,  
mais longe vara.
— E quem foi que o emboscou,  
irmãos das almas,  
quem contra ele soltou  
essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer,  
irmão das almas,  
sempre há uma bala voando  
desocupada.
(..)
— E era grande sua lavoura,  
irmãos das almas,  
lavoura de muitas covas,  
tão cobiçada?
— Tinha somente dez quadras,  
irmão das almas,  
todas nos ombros da serra,  
nenhuma várzea.
— Mas então por que o mataram,  
irmãos das almas,  
mas então por que o mataram  
com espingarda?
(..)
— E agora o que passará,  
irmãos das almas,  
o que é que acontecerá  
contra a espingarda?
— Mais campo tem para soltar,  
irmão das almas,  
tem mais onde fazer voar  
as filhas-bala.
(..)
— E poderei ajudar,  
irmãos das almas?  
vou passar por Toritama,  
é minha estrada.
— Bem que poderá ajudar,  
irmão das almas,  
é irmão das almas quem ouve  
nossa chamada. 


 Narrador: Nessa passagem temos a denúncia da ganância humana. Os irmãos das almas contam a Severino que o morto possuía uns hectares de terra, "pedra e areia lavada", que alguém ambicionava. Plantava entre as pedras umas dez quadras de palha.

Cena 3
(Após a saída dos “irmãos das almas” e de um dos retirantes, um se encaminha mais para o centro e começa a fala).
Narrador: O retirante tem medo de se extraviar por seu guia, o rio capibaribe, cortou com o verão.
Antes de sair de casaaprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
todas formando um rosário
de que a estrada fosse linha
..........................................
Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?”
Narrador: O elemento da seca faz parte da paisagem, denunciando um dos maiores males vividos pelo homem sertanejo: os leitos secos dos rios. A confusão causada no personagem decorre do fato de que ele acompanhava o leito do Capibaribe que, agora seco, se mistura com o cenário desolador.

Cena 4
(Neste momento Severino se ajoelha, espera o narrador falar e então começa sua fala, com aspecto de cansado e desacreditado).
Cansado da viagem o retirante pensa interrompê-la por uns instantes e procurar trabalho ali onde se encontra.
Narrador: O retirante cansado interrompe a viagem e procura trabalho. Em solilóquio, Severino retoma os motivos que o fizeram partir: está à procura da vida, de certa maneira, tenta estendes a sua própria vida, ultrapassar os trinta, catando migalhas que lhe permitem a sobrevivência. Neste momento, ele percebe que está em busca de vida, mas só encontra mortos:
-Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida,
e é ainda mais severina
para o homem que retira).
Penso agora: mas por que
parar aqui eu não podia
e como o Capibaribe
interromper minha linha?


Cena 5
(Depois de se levantar e seguir o seu caminho, Severino encontra em uma janela a figura de uma mulher, na qual, entra com um diálogo).
Dirige-se à mulher na janela que depois, descobre tratar-se de quem se saberá


——  Muito bom dia senhora, 
que nessa janela está 
sabe dizer se é possível 
algum trabalho encontrar?
——  Trabalho aqui nunca falta 
a quem sabe trabalhar 
o que fazia o compadre 
na sua terra de lá?
——  Pois fui sempre lavrador, 
lavrador de terra má 
não há espécie de terra 
que eu não possa cultivar.
——  Isso aqui de nada adianta, 
poucos existe o que lavrar 
mas diga-me, retirante, 
o que mais fazia por lá?
(..)
——  Mas isso então será tudo 
em que sabe trabalhar? 
vamos, diga, retirante, 
outras coisas saberá.
(..)
——  Essa vida por aqui 
é coisa familiar 
mas diga-me retirante, 
sabe benditos rezar? 
sabe cantar excelências, 
defuntos encomendar? 
sabe tirar ladainhas, 
sabe mortos enterrar?
——  Já velei muitos defuntos, 
na serra é coisa vulgar 
mas nunca aprendi as rezas, 
sei somente acompanhar.
——  Pois se o compadre soubesse 
rezar ou mesmo cantar, 
trabalhávamos a meias, 
que a freguesia bem dá.
——  Agora se me permite 
minha vez de perguntar: 
como senhora, comadre, 
pode manter o seu lar?
——  Vou explicar rapidamente, 
logo compreenderá:
como aqui a morte é tanta, 
vivo de a morte ajudar.
(..)
Narrador: O protagonista percebe que a mulher da janela é remediada, nem rica, nem pobre. Interrogado por ela sobre suas habilidades, Severino declara ser agricultor de roças cabíveis àquela região e estar acostumado a lidar com aquele tipo de terra, além de saber cuidar de gado e trabalhar no engenho. Sua interlocutora diz que são profissões inúteis na região, porque os bancos não financiam mais agricultura, não há gado na região e as usinas substituíram o engenho. Lá só há profissões ligadas à morte, ,como coveiros, cantadores de excelências e rezadores, como ela. Sugere que o retirante associe-se a ela, pela abundância de mortes e pelo lucro imediato.
Cena  6
Narrador: O retirante chega à zona da  mata que o faz pensar, outra vez, em interromper a viagem.

(Apagam-se as luzes, após a conversa com a mulher da janela, entra Severino que observa de longe outro cortejo fúnebre, escutando o que os parentes do falecido comentavam e cantavam)

Narrador: Os trabalhadores levam um morto ao cemitério, um trabalhador eito (da roça). Severino observador ouve o que dizem os amigos do finado. Uma raiva até então contida vai crescendo, acompanhada do ritmo da poesia que salta de versos


——  Essa cova em que estás, 
com palmos medida, 
é a cota menor 
que tiraste em vida.
——  é de bom tamanho, 
nem largo nem fundo, 
é a parte que te cabe
neste latifúndio.
——  Não é cova grande. 
é cova medida, 
é a terra que querias 
ver dividida.
——  é uma cova grande 
para teu pouco defunto, 
mas estarás mais ancho 
que estavas no mundo.
——  é uma cova grande 
para teu defunto parco, 
porém mais que no mundo 
te sentirás largo.
——  é uma cova grande 
para tua carne pouca, 
mas a terra dada 
não se abre a boca.
(..)
——  Viverás, e para sempre 
na terra que aqui aforas: 
e terás enfim tua roça.
——  Aí ficarás para sempre, 
livre do sol e da chuva, 
criando tuas saúvas.
——  Agora trabalharás 
só para ti, não a meias, 
como antes em terra alheia.
——  Trabalharás uma terra 
da qual, além de senhor, 
serás homem de eito e trator.
——  Trabalhando nessa terra, 
tu sozinho tudo empreitas: 
serás semente, adubo, colheita.
——  Trabalharás numa terra 
que também te abriga e te veste: 
embora com o brim do Nordeste.
(..)


Narrador: Essa belíssima e dolorosa passagem parece conscientizar o personagem não apenas da existência da morte também nos latifúndios canavieiros, mas também da reforma agrária. O lavrador só recebe depois da morte a mínima parte que lhe cabe, uma cova rasa, medida em palmos.

Cena 7
Narrador: Severino se apreça para chegar a Recife mais rapidamente, pois, as esperanças vão se rareando, porque em qualquer lugar, a morte é sua sempre companheira.

(Logo após o fúnebre velório, se apagam as luzes e o narrador entra com a fala acima para logo começar a cena, na qual, Severino escuta  a conversa de dois coveiros)
(A) —— O dia hoje está difícil
não sei onde vamos parar.
Deviam dar um aumento,
ao menos aos deste setor de cá.
As avenidas do centro são melhores,
mas são para os protegidos:
há sempre menos trabalho
e gorjetas pelo serviço
e é mais numeroso o pessoal
(toma mais tempo enterrar os ricos).
(B)—— pois eu me daria por contente
se me mandassem para cá.
Se trabalhasses no de Casa Amarela
não estarias a reclamar.
De trabalhar no de Santo Amaro
deve alegrar-se o colega
porque parece que a gente
que se enterra no de Casa Amarela
está decidida a mudar-se
toda para debaixo da terra.
(B)—— é que o colega ainda não viu
o movimento: não é o que se vê.
Fique-se por aí um momento
e não tardarão a aparecer
os defuntos que ainda hoje
vão chegar (ou partir, não sei).
As avenidas do centro,
onde se enterram os ricos,
são como o porto do mar
não é muito ali o serviço:
no máximo um transatlântico
chega ali cada dia,
com muita pompa, protocolo,
e ainda mais cenografia.
Mas este setor de cá
é como a estação dos trens:
diversas vezes por dia
chega o comboio de alguém.


Narrador: Severino chega ao Recife e ouve a conversa de dois coveiros que exaltam os privilégios dos coveiros que trabalham nos cemitérios dos ricos.

Cena 8
(Severino segue a viagem, cabisbaixo, se centra no palco e começa sua fala)
Narrador: Influenciado pela conversa dos dois coveiros, Severino perde as esperanças e começa a desejar a morte, pois sente que veio acompanhando seu próprio enterro.
E chegando, aprendo que, 
nessa viagem que eu fazia, 
sem saber desde o Sertão, 
meu próprio enterro eu seguia. 
Só que devo ter chegado 
adiantado de uns dias 
o enterro espera na porta: 
o morto ainda está com vida. 
A solução é apressar 
a morte a que se decida 
e pedir a este rio, 
que vem também lá de cima, 
que me faça aquele enterro 
que o coveiro descrevia: 
caixão macio de lama, 
mortalha macia e líquida.
(..)

Cena 9
(Apagam-se as luzes e nesta cena Severino encontra José mestre capina sentado e começa o dialogo)
—— Seu José, mestre carpina, 
que lhe pergunte permita: 
há muito no lamaçal 
apodrece a sua vida? 
e a vida que tem vivido 
foi sempre comprada à vista?
—— Severino, retirante, 
sou de Nazaré da Mata, 
mas tanto lá como aqui 
jamais me fiaram nada: 
a vida de cada dia 
cada dia hei de comprá-la.
—— Seu José, mestre carpina, 
e que interesse, me diga, 
há nessa vida a retalho 
que é cada dia adquirida? 
espera poder um dia 
comprá-la em grandes partidas?
—— Severino, retirante, 
não sei bem o que lhe diga: 
não é que espere comprar 
em grosso tais partidas, 
mas o que compro a retalho 
é, de qualquer forma, vida.
—— Seu José, mestre carpina, 
que diferença faria 
se em vez de continuar 
tomasse a melhor saída: 
a de saltar, numa noite, 
fora da ponte e da vida?  
Narrador: Severino, desanimado, aproxima-se de um cais do Rio Capibaribe e reflete sobre sua futura, que será causada pela miséria e não mais pela seca. Nesse momento, aproxima-se de um morador de um mocambo, o senhor José, e estabelece um diálogo com ele. Nesta conversa Severino demonstra seu pessimismo e desânimo e acaba por perguntar se vale a pena viver essa vida severina. Mestre Carpina, um ex-retirante experiente, pois mora ali há mais tempo, não sabe o que responder a Severino. Diz que sua vida é severina, dura, mas ainda é vida. Severino demosntra desejar o suicídio.

Cena 10
(Apagam-se as luzes e após a narradora dizer o texto acima, José Mestre de Capina responde o que Severino havia perguntado – demonstrar confiança na fala, de que nada esta acabado, a vida continua)
Severino, retirante, 
deixe agora que lhe diga: 
eu não sei bem a resposta 
da pergunta que fazia, 
se não vale mais saltar 
fora da ponte e da vida 
nem conheço essa resposta, 
se quer mesmo que lhe diga 
é difícil defender, 
só com palavras, a vida, 
ainda mais quando ela é 
esta que vê, severina 
mas se responder não pude 
à pergunta que fazia, 
ela, a vida, a respondeu 
com sua presença viva. 
  E não há melhor resposta 
que o espetáculo da vida: 
vê-la desfiar seu fio, 
que também se chama vida, 
ver a fábrica que ela mesma, 
teimosamente, se fabrica, 
vê-la brotar como há pouco 
em nova vida explodida 
mesmo quando é assim pequena 
a explosão, como a ocorrida 
como a de há pouco, franzina 
mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina.

Obs: as duas últimas frases Severino deve citá-la duas vezes!

Narrador: A própria vida pareceu responder a Severino sobre suas dúvidas, já que as palavras do mestre carpinteiro, não conseguiram convencê-lo de que a vida vale a pena. Esse final, de rara beleza, consegue unir as duas pontas da peça, justificando seu título.

(Apagam-se as luzes e todos que participaram do teatro aparecem)

Fim..

4 comentários:

  1. Olá professora Jully, vi vc lá nos Professores Multiplicadores e vim conhecer seu blog.
    Parabéns.
    Bjus, Genis
    http://redeeducacaoemfoco.blogspot.com.br/
    http://blogdagenis.blogspot.com.br/

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    1. OLá Genis, seja bem vinda no nosso espaço. Já visitei seus blogs e estou participando de seu projeto.
      Tenha um bom trabalho.

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  2. Olá Multiplicadora Jully, como prometido, seu blog já foi divulgado! Fiz de coração, espero que goste!
    Aqui está o link de publicação:
    http://www.educadoresmultiplicadores.com.br/2012/07/multiplicador-ensino-de-geografia.html
    Faça uma visitinha especial ao blog Educadores Multiplicadores! Abra as páginas e veja como ficou.
    Fique na paz, abraço e até breve!

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    1. OLá, muito obrigada por divulgar o meu blog, conte sempre comigo para divulgar o conhecimento.
      Tenha um bom trabalho, que Deus lhe abençoe nesta empreitada.
      Abraços profª Jully.

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